Resenha do livro O alienista – Machado de Assis

O alienista

O alienista, de Machado de Assis, é uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira e um marco do realismo no país. Publicado originalmente em 1882 como parte da coletânea “Papéis avulsos”, o livro satiriza os excessos da ciência, a lógica da razão levada ao extremo e o autoritarismo disfarçado de progresso. Com um enredo breve, mas profundamente irônico e filosófico, O alienista continua atual ao provocar reflexões sobre normalidade, poder e limites éticos.


Sinopse de O alienista

O alienista narra a história do Dr. Simão Bacamarte, um respeitado médico que retorna a Itaguaí, sua cidade natal, com o objetivo de estudar as doenças da mente. Decidido a fundar a Casa Verde, um hospício destinado a tratar os “loucos”, Bacamarte inicia um experimento científico para entender os desvios de comportamento.

No entanto, o que começa como uma investigação racional logo se transforma em uma obsessão pelo controle e pela categorização da loucura. À medida que o número de internados aumenta, inclusive pessoas respeitáveis e até mesmo membros da elite, a população passa a questionar os critérios do médico, gerando tensões sociais, rebeliões e reviravoltas políticas.

Com linguagem refinada e humor afiado, a narrativa revela o paradoxo entre razão e loucura, explorando a tênue linha que separa o médico de seus pacientes. A história segue até um desfecho surpreendente, que coloca em xeque o próprio conceito de sanidade.

Além da tensão crescente em torno das decisões de Bacamarte, a narrativa insere o leitor em um cenário onde ciência, poder e política se entrelaçam, revelando os interesses ocultos por trás do discurso da razão. A cidade de Itaguaí se transforma num laboratório social que reflete, com ironia mordaz, as contradições humanas e institucionais. Com isso, a obra não apenas diverte, mas também instiga questionamentos profundos sobre autoridade, liberdade e o verdadeiro significado de loucura.


Personagens principais de O alienista

1 – Dr. Simão Bacamarte

Protagonista da obra, médico renomado e obcecado pela ciência. Representa o cientificismo exagerado e o desejo de controle absoluto sobre o comportamento humano.

2 – Dona Evarista

Esposa de Bacamarte, escolhida por critérios científicos. Figura secundária que reforça a frieza e o racionalismo do protagonista em todas as esferas da vida.

3 – Padre Lopes

Religioso de Itaguaí que tenta mediar conflitos. É uma voz mais sensata e humanizada diante dos exageros do cientista.

4 – Porfírio

Barbeiro e líder da Revolta dos Canjicas, que se opõe às arbitrariedades de Bacamarte. Representa a resistência popular ao autoritarismo.

5 – Crispim Soares

Vereador da câmara de Itaguaí, figura burocrática que representa o conformismo diante do poder. Sua postura passiva diante de Bacamarte simboliza a complacência das instituições com abusos de autoridade.


Pontos positivos e negativos de O alienista

✅ Pontos positivos do livro

  • Crítica social inteligente e bem construída
  • Humor irônico e linguagem sofisticada
  • Personagem principal complexo e memorável
  • Reflexões filosóficas sobre poder e loucura
  • Texto curto, mas denso e provocativo

❌ Pontos negativos do livro

  • Linguagem pode ser desafiadora para leitores iniciantes
  • Narrativa densa exige atenção constante
  • Personagens secundários pouco desenvolvidos

Perguntas frequentes sobre O alienista (📌 FAQs)

📌 O alienista é um romance ou conto?

É uma novela, ou seja, uma narrativa intermediária entre conto e romance. Tem enredo mais desenvolvido que um conto, mas mais breve que um romance.

📌 Qual é a principal crítica feita em O alienista?

A obra critica o uso excessivo da razão e o autoritarismo científico, questionando os limites entre sanidade e loucura.

📌 O alienista tem ligação com outros livros de Machado de Assis?

Sim. Ele integra a coletânea Papéis avulsos, que contém outras histórias com o mesmo tom crítico e filosófico característico do autor.


Sobre Machado de Assis

Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro, Brasil. Considerado o maior escritor da literatura brasileira, foi romancista, cronista, poeta, dramaturgo e fundador da Academia Brasileira de Letras. Entre suas obras mais importantes estão Dom Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. Sua escrita mescla ironia, pessimismo, análise psicológica e crítica social. Faleceu em 29 de setembro de 1908.


Narrativa e estilo de escrita em O alienista

Machado de Assis adota em O alienista uma narrativa em terceira pessoa com tom objetivo, irônico e distante, característica de seu estilo realista maduro. O narrador observa os acontecimentos com certo sarcasmo, promovendo uma crítica sutil e eficaz à sociedade da época.

A linguagem é sofisticada, com vocabulário da época, mas o humor ácido e as situações absurdas tornam o texto acessível ao leitor atento. O enredo evolui com agilidade, mas exige interpretação mais profunda para captar as nuances filosóficas e sociais.

O estilo de Machado é marcado por frases curtas, construção refinada e crítica velada, fazendo com que cada parágrafo carregue múltiplos sentidos. O autor conduz o leitor a questionar valores tidos como absolutos, como a racionalidade científica e a autoridade institucional.


Temas abordados em O alienista

  • Loucura e sanidade: Questiona quem tem o poder de definir o que é normal e revela o perigo dos rótulos impostos pela ciência.
  • Autoritarismo: Denuncia o controle social travestido de ciência e o abuso de poder de figuras tidas como racionais.
  • Crítica à ciência: Expõe os limites éticos do cientificismo e os riscos da razão absoluta sobre o humano.
  • Liberdade individual: Mostra como a sociedade pode sacrificar liberdades em nome da ordem e da normalidade.
  • Hipocrisia social: Retrata os interesses políticos e pessoais mascarados de virtude e progresso.
  • Ironia e relativismo: Aponta para a fragilidade de conceitos absolutos e o humor como forma de crítica inteligente.

Comparação com outros livros do mesmo gênero

1- póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Assim como O alienista, utiliza ironia e crítica social para questionar os valores da elite e da ciência no século XIX.

2- O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson

Aborda o conflito entre razão e instinto, assim como os perigos do cientificismo e a dualidade humana.

3- A revolução dos bichos, de George Orwell

Embora mais político, também explora o autoritarismo travestido de boas intenções e a manipulação de conceitos.


Conclusão

O alienista é uma obra-prima do realismo brasileiro que continua a impressionar pela atualidade de suas críticas e pela genialidade de sua construção narrativa. Machado de Assis oferece uma análise sofisticada das contradições humanas e sociais, usando a loucura como lente para enxergar os excessos da racionalidade.

Com humor afiado, personagens simbólicos e um enredo provocador, o livro desafia o leitor a pensar sobre ciência, poder, ética e o que significa, afinal, ser são ou insano. Recomendado tanto para iniciantes quanto para leitores experientes, é uma leitura essencial da literatura nacional.

Nota final: ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)


Título: O alienista
Autor: Machado de Assis
Editora: Penguin-Companhia
Páginas: 104

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