Resenha do livro O colecionador – John Fowles

O colecionador

O colecionador, de John Fowles, é um clássico do suspense psicológico que marcou a literatura do século XX por sua abordagem perturbadora sobre obsessão, poder e isolamento. Publicado em 1963, o livro conquistou notoriedade ao explorar com profundidade a mente de um sequestrador e a complexa dinâmica entre captor e vítima. Considerado uma das obras mais impactantes de sua época, O colecionador continua relevante por sua tensão narrativa, construção psicológica intensa e questionamentos éticos que permanecem atuais.


Sinopse de O colecionador

O colecionador conta a história de Frederick Clegg, um funcionário público socialmente isolado e emocionalmente reprimido, que nutre uma obsessão silenciosa por Miranda Grey, uma jovem estudante de arte. Após ganhar uma quantia significativa de dinheiro, Frederick decide realizar seu maior desejo: capturar Miranda para que ela possa finalmente conhecê-lo e, eventualmente, se apaixonar por ele.

Ele a sequestra e a mantém em cativeiro no porão de uma casa isolada, convencido de que, com o tempo, ela entenderá seus sentimentos e corresponderá a eles. Enquanto Frederick tenta manter uma aparência de civilidade e respeito, Miranda vive o horror da prisão, tentando compreender seu captor e planejar sua liberdade. A tensão cresce à medida que a relação entre eles evolui de estranhamento para desespero.

O colecionador alterna os pontos de vista entre Frederick e Miranda, revelando as contradições, motivações e conflitos internos de cada personagem. O resultado é uma narrativa densa e inquietante, que mergulha no abismo da mente humana e desafia o leitor a refletir sobre os limites entre amor, posse e loucura.


Personagens principais de O colecionador

1- Frederick Clegg

Homem solitário e introvertido, Clegg trabalha na prefeitura e coleciona borboletas. Incapaz de estabelecer conexões humanas genuínas, transforma sua obsessão silenciosa por Miranda em um plano de sequestro. É metódico, emocionalmente reprimido e acredita que está agindo por amor — embora sua visão seja distorcida e controladora.

2- Miranda Grey

Jovem estudante de arte, culta, criativa e idealista, Miranda representa o oposto absoluto de Clegg. Durante o cativeiro, ela luta para preservar sua dignidade, lucidez e esperança, mesmo diante da crescente manipulação psicológica. Sua perspectiva revela não apenas o horror do aprisionamento físico, mas o impacto destrutivo do controle emocional e da obsessão travestida de afeto.


Pontos positivos e negativos de O colecionador

✅ Pontos positivos

  • Narrativa tensa e claustrofóbica que prende do início ao fim.
  • Alternância de pontos de vista que aprofunda o conflito psicológico.
  • Temas universais e atemporais, como obsessão, poder e liberdade.
  • Escrita elegante, desconfortável e provocativa, que gera tensão constante.
  • Personagens complexos e realistas, com desenvolvimento psicológico minucioso.

❌ Pontos negativos

  • Leitura angustiante que pode incomodar leitores mais sensíveis.
  • A ausência de alívio cômico ou momentos leves torna a narrativa intensa do início ao fim.
  • Certos trechos podem gerar identificação involuntária com o captor, causando desconforto ético.

Perguntas frequentes sobre O colecionador (📌 FAQs)

📌 O colecionador é baseado em fatos reais?

Não, mas influenciou crimes reais. Leonard Lake, Charles Ng e Robert Berdella disseram ter se inspirado no livro.

📌 O colecionador tem adaptação para o cinema?

Sim. Em 1965, o livro foi adaptado para o cinema com o mesmo nome, dirigido por William Wyler. O filme recebeu indicações ao Oscar e é fiel à essência do livro.

📌 Qual a classificação indicativa para ler O colecionador?

Devido ao conteúdo psicológico intenso e temáticas sensíveis, é recomendado para maiores de 16 anos.

📌 O final de O colecionador é fechado ou aberto?

O desfecho é inquietante e simbólico. Embora ofereça uma conclusão narrativa, deixa elementos abertos que ampliam o impacto psicológico e moral da história.


Sobre John Fowles

John Fowles nasceu em 31 de março de 1926, em Leigh-on-Sea, Inglaterra. Romancista, ensaísta e professor, ganhou projeção internacional com seu livro de estreia, O colecionador (1963), uma obra que marcou a literatura moderna com sua abordagem psicológica intensa e estrutura inovadora. Consolidou sua carreira com títulos como O mago e A mulher do tenente francês.

Fowles é conhecido por explorar a psicologia humana em profundidade, mesclando realismo com questionamentos filosóficos sobre liberdade, identidade, moralidade e obsessão. Seu estilo literário combina elegância, inquietação existencial e ousadia narrativa — muitas vezes desafiando as convenções do romance tradicional.

Outras obras do autor:

  • The Magus
  • A Maggot
  • Mantissa

John Fowles faleceu em 5 de novembro de 2005, deixando um legado importante na literatura contemporânea inglesa.


Narrativa e estilo de escrita em O colecionador

O colecionador se destaca por sua estrutura narrativa envolvente e perturbadora. A primeira parte é narrada por Frederick Clegg, cuja voz fria e racional revela pensamentos obsessivos, lógica distorcida e um comportamento passivo-agressivo inquietante. A perspectiva dele nos obriga a confrontar o horror por trás de uma aparência de normalidade.

Na segunda parte, a história ganha uma nova camada com o diário de Miranda Grey. Sua escrita é emocional, introspectiva e crítica, revelando medo, indignação e tentativas desesperadas de compreender e resistir à sua prisão. A alternância de pontos de vista dá profundidade à trama e enfatiza o abismo moral e emocional entre captor e vítima.

John Fowles utiliza uma linguagem refinada e econômica. Ele evita cenas de violência explícita, preferindo construir o terror por meio do silêncio, do controle e das tensões psicológicas. Essa escolha estilística transforma O colecionador em uma leitura incômoda, intensa e intelectualmente provocadora.


Temas abordados em O colecionador

Obsessão e controle: A relação de Frederick com Miranda é baseada na ideia distorcida de amor como posse, onde o desejo de controlar substitui qualquer forma de afeto genuíno.

Liberdade e prisão: A obra discute prisões físicas e mentais, revelando como o cativeiro afeta a identidade e a resistência de Miranda.

Classe social e desigualdade: O conflito entre um homem de origem humilde e uma jovem intelectual destaca tensões de classe e ressentimento social.

Solidão e isolamento: Ambos os personagens lidam com diferentes formas de solidão, que moldam seus comportamentos e percepções do outro.

Moralidade e psicopatia: O livro levanta questões éticas profundas sobre empatia, maldade e as fronteiras entre normalidade e patologia.


Comparação com outros livros do mesmo gênero

1- Misery, de Stephen King

Ambas as histórias envolvem sequestro e tensão psicológica. Misery, porém, adiciona o elemento do terror físico. Em O colecionador, o horror é mais psicológico e subjetivo.

2- Menina má, de William March

Os dois livros exploram a psicopatia e o mal disfarçado por uma aparência comum. O colecionador se diferencia por mergulhar no ponto de vista do próprio sequestrador.

3- O talentoso Ripley, de Patricia Highsmith

Assim como O colecionador, essa obra também oferece uma imersão na mente de um personagem amoral e encantadoramente perturbador.


Conclusão

O colecionador é uma obra-prima do suspense psicológico que continua atual por sua complexidade emocional, escrita precisa e inquietante poder de provocar reflexão. John Fowles constrói uma narrativa onde não existem vilões caricatos nem heroínas idealizadas — apenas pessoas comuns, movidas por desejos sombrios, fragilidades humanas e dilemas éticos levados ao limite.

Recomendado para leitores que buscam histórias densas, provocativas e intimamente desconfortáveis, O colecionador é um livro que permanece na mente muito tempo após o fim — como uma cicatriz literária que insiste em não desaparecer.

Nota final: ⭐ 4.9/5


Título: O colecionador
Autor: John Fowles
Editora: Darkside
Páginas: 256

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