Resenha do livro O gigante enterrado – Kazuo Ishiguro

O gigante enterrado

O gigante enterrado, do premiado autor Kazuo Ishiguro, é uma obra que mistura elementos de fantasia, memória e mitologia para construir uma narrativa densa e filosófica. Longe de se limitar a um conto de aventuras medievais, o livro provoca reflexões profundas sobre o esquecimento, a vingança, o amor e a passagem do tempo. Desde seu lançamento, O gigante enterrado tem gerado debates entre leitores e críticos pela ousadia de seu tom e complexidade de seu enredo. Kazuo Ishiguro, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2017, reafirma aqui sua habilidade em lidar com memória e identidade, temas centrais de sua obra.


Sinopse de O gigante enterrado

O gigante enterrado se passa numa Britânia pós-arturiana, marcada por tensões entre saxões e bretões, em um mundo onde uma misteriosa névoa parece apagar as memórias das pessoas. Nesse cenário, acompanhamos o casal idoso Axl e Beatrice, que vive à margem de uma pequena vila. Inquietos com a perda das lembranças de seu filho, decidem partir em uma jornada para encontrá-lo.

Ao longo do caminho, encontram personagens que ampliam o universo da narrativa, como o guerreiro saxão Wistan, o jovem Edwin e o velho cavaleiro Gawain. Juntos, eles enfrentam criaturas míticas, desafios físicos e psicológicos, enquanto a neblina do esquecimento envolve tudo à sua volta.

O livro não entrega respostas fáceis, preferindo manter um ritmo introspectivo e contemplativo. A mistura entre lenda arturiana e fantasia sombria se entrelaça com questões emocionais e morais, como o peso do passado, o esquecimento seletivo e o perdão.

O casal Axl e Beatrice, ao longo da jornada, passa a perceber que talvez o passado não tenha sido tão pacífico quanto imaginavam. A existência do dragão Querig, responsável pela névoa, adiciona tensão à narrativa, pois seu destino pode significar tanto o retorno das memórias quanto a reabertura de feridas antigas. Wistan e Gawain se mostram figuras-chave nesse dilema, representando lados opostos sobre lembrar ou esquecer. Assim, a jornada se torna também uma profunda reflexão sobre as consequências de se enfrentar a verdade.


Personagens principais de O gigante enterrado

1- Axl

Um idoso bretão, gentil e reflexivo, que vive com sua esposa Beatrice. Sua busca pela memória perdida e pelo reencontro com o filho guia a jornada principal do livro.

2- Beatrice

Esposa de Axl, também afetada pela névoa do esquecimento. Representa o amor devotado, mas também carrega dúvidas sobre o passado compartilhado com o marido.

3- Wistan

Guerreiro saxão que tem uma missão secreta ligada ao passado de seu povo. Representa a tensão entre as memórias que deveriam ser esquecidas e aquelas que exigem vingança.

4- Edwin

Jovem saxão que se junta ao grupo após ser rejeitado por sua vila. Sua história pessoal e transformação refletem o medo do diferente e a esperança de redenção.

5- Cavaleiro Gawain

Remanescente dos tempos do Rei Arthur, envelhecido e ainda em missão. Simboliza a honra, mas também o peso da lealdade e o conflito entre o dever e a verdade.


Pontos positivos e negativos de O gigante enterrado

✅ Pontos positivos

  • Narrativa poética e introspectiva
  • Reflexões filosóficas sobre memória, perdão e identidade
  • Mistura inteligente entre fantasia e história
  • Atmosfera envolvente e simbólica

❌ Pontos negativos

  • Ritmo lento pode afastar leitores que buscam ação constante
  • Ambiguidade proposital pode gerar frustração em quem espera respostas claras
  • Diálogos excessivamente formais podem parecer artificiais

Perguntas frequentes sobre O gigante enterrado (📌 FAQs)

📌 O gigante enterrado tem elementos fantásticos?

Sim, o livro mistura fantasia com realidade histórica, incluindo criaturas míticas e ambientação medieval.

📌 O livro tem conexão com o Rei Arthur?

Sim, embora indiretamente. Um dos personagens foi cavaleiro de Arthur, e o livro aborda as consequências de sua era.

📌 O foco é mais na aventura ou na reflexão?

Mais na reflexão. A jornada é usada como recurso para explorar temas como memória e arrependimento.


Sobre Kazuo Ishiguro

Kazuo Ishiguro nasceu em 8 de novembro de 1954, em Nagasaki, Japão, mas cresceu na Inglaterra. É um dos escritores mais respeitados da literatura contemporânea, conhecido por obras como “Os vestígios do dia” e “Não me abandone jamais”. Foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 2017.

Sua escrita se destaca pela elegância, profundidade psicológica e pela exploração da memória, identidade e tempo. Seus livros frequentemente utilizam narradores não confiáveis e atmosferas melancólicas para abordar temas universais com sutileza.


Narrativa e estilo de escrita em O gigante enterrado

Kazuo Ishiguro adota uma escrita contida e atmosférica, com uma prosa deliberadamente formal que remete ao tom de fábulas antigas. A escolha da linguagem arcaica nos diálogos e descrições contribui para criar uma ambientação mitológica e distante.

A narrativa é conduzida de forma introspectiva, com ritmo lento e foco nas emoções dos personagens. Ishiguro evita cenas de ação explícita, optando por sugerir violências e eventos importantes através de silêncios e hesitações.

Outro destaque é a construção de um mundo onde a memória é incerta. A névoa que afeta os personagens simboliza o esquecimento coletivo, e a narrativa se aproveita disso para criar ambiguidade, levando o leitor a questionar o que é real, lembrado ou esquecido.

Além do estilo introspectivo e da ambientação mitológica, Kazuo Ishiguro constrói a narrativa a partir de múltiplas perspectivas discretas, permitindo que o leitor monte o quebra-cabeça da história por meio de fragmentos e contradições. O uso de simbolismos — como a névoa da memória e o dragão Querig — fortalece a abordagem alegórica da obra, remetendo à forma como sociedades lidam com traumas históricos. Ishiguro também emprega a ambiguidade narrativa como ferramenta estilística, não apenas para manter o suspense, mas para sugerir que o passado é sempre uma construção subjetiva.


Temas abordados em O gigante enterrado

  • Memória e esquecimento: A névoa que envolve os personagens impede que eles se lembrem de eventos importantes, levantando questões sobre a importância de lembrar e o peso do passado.
  • Amor e lealdade: A relação entre Axl e Beatrice reflete o compromisso de um casal frente às incertezas do passado e a esperança do reencontro.
  • Guerra e reconciliação: O passado de conflitos entre saxões e bretões serve como pano de fundo para discutir se é melhor lembrar ou esquecer para seguir em frente.
  • Identidade e verdade: O esquecimento afeta não apenas os fatos, mas quem os personagens acreditam ser. A busca por identidade é um dos fios condutores da narrativa.
  • Alegorias políticas e históricas: O livro pode ser lido como uma fábula sobre como sociedades lidam com traumas coletivos, como guerras e massacres.
  • Culpa e responsabilidade coletiva: A névoa do esquecimento não apenas impede lembranças individuais, mas simboliza o esforço de uma sociedade em esconder seus crimes do passado.
  • Fragilidade da memória como base da paz: A obra sugere que a paz entre povos pode depender do esquecimento mútuo. Mas será que uma reconciliação sem lembrança é verdadeira?
  • Envelhecimento e finitude: A jornada de Axl e Beatrice é também um retrato melancólico da velhice. Representa a última busca antes da morte — por sentido, perdão e closure.

Comparacão com outros livros do mesmo gênero

1- Os despossuídos

Assim como Ishiguro, Ursula K. Le Guin usa a ficção especulativa para discutir temas políticos e filosóficos, como memória e sociedade.

2- A estrada

Ambos os livros acompanham personagens em uma jornada marcada por perdas, silêncios e reflexões sobre amor e sobrevivência.

3- O livro do juízo final

Ficção histórica e fantasia se misturam em uma narrativa que explora memória coletiva, tempo e humanidade.


Conclusão

O gigante enterrado é uma obra profunda e atmosférica que exige paciência e sensibilidade do leitor. Kazuo Ishiguro constrói uma narrativa que transcende o gênero da fantasia para tocar em questões universais sobre o passado, o perdão e a natureza humana.

Não se trata de um livro para quem busca respostas rápidas ou aventuras tradicionais. É uma experiência literária rica, com camadas que se revelam lentamente. Ideal para leitores que apreciam simbolismo, dilemas morais e escrita sofisticada.

Nota final: ⭐⭐⭐⭐⭐ (5/5)


Título: O gigante enterrado
Autor: Kazuo Ishiguro
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 400

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