
O livro O Nariz, de Nikolai Gogol, é um dos contos mais famosos e absurdos da literatura russa. Publicado originalmente em 1836, a obra mistura realismo e surrealismo de forma magistral, consolidando-se como um exemplo clássico do humor satírico de Gogol. O conto acompanha a bizarra história de um funcionário público que acorda um dia sem seu nariz, que, por sua vez, ganha vida própria e começa a agir de maneira independente. A crítica social presente na obra e sua abordagem irônica fizeram com que O Nariz se tornasse um dos textos mais emblemáticos da literatura russa e uma referência para escritores que exploram o absurdo e o grotesco em suas narrativas.
Sinopse de O Nariz
A trama de O Nariz gira em torno do major Kovaliov, um funcionário da burocracia russa do século XIX que, ao acordar, descobre que seu nariz desapareceu misteriosamente. O pânico toma conta quando ele descobre que o nariz, agora independente, está vivendo como um oficial de alta patente e se recusa a reconhecê-lo. Em sua busca desesperada para recuperar a parte perdida de seu rosto, Kovaliov enfrenta diversas situações absurdas e hilárias, revelando, por meio do exagero e do ridículo, as contradições da sociedade russa e a obsessão com status social.
Personagens principais de O Nariz
Major Kovaliov
O protagonista do conto, um funcionário público arrogante e obcecado por status. Seu desespero ao perder o nariz representa sua preocupação extrema com a aparência e a posição social.
O Nariz
A própria parte do corpo que adquire vida e se torna uma entidade independente, vestindo-se como um alto funcionário do governo e negando qualquer relação com Kovaliov.
O barbeiro Ivan Yakovlevich
Personagem responsável pelo sumiço inicial do nariz. Sua participação na trama serve para evidenciar a falta de lógica e a aleatoriedade dos acontecimentos na história.
Pontos positivos e negativos de O Nariz
✅ Aspectos positivos:
- Narrativa inovadora e repleta de humor satírico.
- Crítica social profunda, que permanece relevante até os dias atuais.
- Elementos surrealistas que tornam a leitura envolvente e única.
- Linguagem acessível e fluída, apesar da complexidade simbólica da história.
❌ Aspectos negativos:
- O tom surrealista pode não agradar leitores que preferem narrativas mais convencionais.
- Algumas referências culturais e sociais da Rússia czarista podem ser difíceis de compreender sem um contexto histórico.
- O enredo propositalmente ilógico pode ser frustrante para leitores que buscam explicações racionais para os acontecimentos.
Perguntas frequentes sobre O Nariz (📌 FAQs)
📌 Qual é o significado do nariz na obra?
O nariz simboliza o status social e a identidade do indivíduo dentro de uma sociedade burocrática e hierárquica. A perda do nariz representa a perda de posição e prestígio.
📌 Por que O Nariz é considerado uma sátira?
Gogol utiliza o absurdo para ridicularizar a burocracia russa e a obsessão com aparência e status, expondo as falhas do sistema social da época.
📌 O conto tem um final fechado ou aberto?
O final da história é enigmático, reforçando a sensação de absurdo e imprevisibilidade que permeia toda a narrativa.
Sobre Nikolai Gogol
Nikolai Gogol (1809–1852) foi um dos escritores mais influentes da literatura russa, conhecido por sua habilidade em mesclar realismo e fantasia para criticar a sociedade de sua época. Entre suas obras mais célebres, além de O Nariz, destacam-se O Capote, Almas Mortas e O Inspetor Geral. Sua escrita influenciou gerações de autores, incluindo Dostoiévski e Kafka, consolidando-se como um mestre do grotesco e do absurdo.
Narrativa e estilo de escrita em O Nariz
Gogol adota um estilo narrativo ágil e repleto de ironia, alternando entre o realismo detalhista e o surrealismo exagerado. O uso do humor satírico é uma das marcas da obra, criando uma atmosfera ao mesmo tempo cômica e perturbadora. A escrita do autor desafia a lógica tradicional, mantendo o leitor intrigado e imerso na bizarrice dos acontecimentos.
Temas abordados em O Nariz
- Crítica à burocracia – O conto expõe o funcionamento absurdo da administração pública russa.
- Obsessão pelo status social – Kovaliov teme mais a perda de sua posição do que a ausência física de seu nariz.
- Surrealismo e ilogicidade – A narrativa desafia o senso comum e brinca com a ideia de identidade e realidade.
- Ironia e humor – A abordagem satírica e exagerada reforça o tom cômico da obra.
Comparação com outros livros do mesmo gênero
O Nariz pode ser comparado a outras obras do absurdo, como O Processo, de Franz Kafka, e O Estrangeiro, de Albert Camus. Enquanto Kafka utiliza o absurdo para explorar a alienação e a burocracia opressiva, Gogol enfatiza o cômico e o surreal para criticar as instituições e a hipocrisia social.
Frases do livro O nariz
Afinal de contas, a vida não é justamente esse constante acaso em que tudo, por mais inacreditável que seja, pode acontecer?
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Ivan Iákovlevitch, como qualquer artesão russo digno, era um bêbado terrível.
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Ele podia perdoar tudo que dissessem dele mesmo, mas não perdoava de jeito nenhum que se referissem à patente ou ao título.
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Mas no mundo não há nada que dure muito, e, por isso, até mesmo a alegria, logo no minuto seguinte, já não é mais tão vívida; no terceiro minuto, ela se torna ainda mais fraca e, por fim, dilui-se, de maneira imperceptível, num estado de espírito comum, como um círculo na água, gerado pela queda de uma pedrinha, que finalmente se dissolve na superfície plana.
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Nikolai Vassiliévitch Gogol é considerado, ao lado de Aleksandr Púchkin, um dos fundadores da literatura russa.
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A carnavalização, portanto, é a concepção de um momento em que aqueles que são marginalizados podem apropriar-se do centro simbólico e, dessa maneira, tornam-se o centro, ainda que apenas por alguns dias. Muitos autores, como Gógol, lançam mão desse recurso: se aqui temos um nariz, parte do rosto de alguém, que rapidamente ascende na hierarquia pública e ultrapassa seu dono, estamos diante de uma situação carnavalizada, afinal a parte torna-se mais importante que o todo, e a inversão de papéis colabora para ampliar a sensação de absurdo que permeia a narrativa.
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Não se deve culpar o espelho se a cara é torta. Sobra-nos, então, a risada insubordinada.
Conclusão e nota final para O Nariz
O Nariz é uma obra indispensável para aqueles que apreciam literatura satírica e surrealista. Com uma escrita ágil e um enredo absurdamente cômico, Nikolai Gogol entrega uma crítica social disfarçada de farsa hilária. Apesar do tom ilógico que pode confundir alguns leitores, o conto permanece uma das maiores referências do humor grotesco e da literatura russa.
📖 Nota final: 4.8/5 ⭐
Título: O nariz
Autor: Nikolai Gogol
Editora: Antofágica
Páginas: 160
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