
O livro Trocando socos com o fim do mundo, de Eduardo Furbino, é uma obra poética impactante, que retrata a angústia, a resistência e a tentativa de sobrevivência emocional em um mundo cada vez mais acelerado e caótico. Com uma linguagem visceral e ao mesmo tempo sensível, Furbino conduz o leitor por 99 poemas que são como rounds de uma luta interna e coletiva contra as dores do nosso tempo.
A obra se destaca por usar a poesia como instrumento de crítica, desabafo e existência. Em um tempo marcado por colapsos sociais, afetivos e ambientais, Trocando socos com o fim do mundo se torna um soco de consciência e empatia no leitor, fazendo-o repensar suas próprias dores e esperanças.
Sinopse de Trocando socos com o fim do mundo
Trocando socos com o fim do mundo apresenta uma estrutura original e potente: são 99 poemas que encenam um duelo entre o poeta e seu tempo. A cada página, temas como amor, saudade, ansiedade, trabalho, desejo e melancolia sobem ao ringue e enfrentam um narrador que, entre quedas e resistências, tenta se manter de pé diante de um mundo fragmentado.
A modernidade é a arena dessa batalha. O livro se constrói como um relato do corpo e da alma tentando se adaptar a um tempo que exige demais, mas oferece pouco. Com imagens potentes e versos afiados, Furbino transforma em poesia o desconforto de viver o fim dos tempos, sem deixar de buscar aquilo que ainda pode ser belo, leve ou transformador.
Por que ler Trocando socos com o fim do mundo?
1- Poesia que reflete a nossa época
Eduardo Furbino oferece um olhar poético sobre as dores contemporâneas. Em poemas como “Espantos”, “Nada é grave” e “Farsa”, percebemos a tensão entre a rotina e a ruína, entre a esperança e o cansaço. A obra traduz em palavras o que muitos sentem, mas não sabem expressar.
2- Linguagem crua, sensível e precisa
A escrita de Furbino transita entre o brutal e o delicado. Poemas como “Ossos” e “Molares” trazem imagens do corpo como espaço de dor e de luta. Já em “Laços” e “Escalas”, vemos o afeto, a saudade e o desejo como formas de resistência. Cada verso é pensado para provocar reflexão, impacto e reconhecimento.
3- Um livro para sentir, pensar e reler
Trocando socos com o fim do mundo não é uma leitura rápida: é uma experiência. Os poemas convidam o leitor a reler, sublinhar, voltar, refletir. Há uma musicalidade silenciosa nos versos e uma potência em cada pausa.
4- Relevância social e emocional
A obra não se limita ao universo interior do autor: ela amplia o olhar para o coletivo. Questões como identidade, desigualdade, futuro e silêncios ganham espaço em poemas como “Cães” e “Não pude ir”. Uma leitura atual, necessária e atravessada pela sensibilidade.
Destaques do livro Trocando socos com o fim do mundo
- Um livro que convida à escuta, à empatia e à resistência
- Poemas que abordam amor, saudade, medo, cansaço e esperança com profundidade
- Versos que provocam reflexão e identificam o leitor com a realidade atual
- Imagens poéticas fortes e inesquecíveis
- Escrita contemporânea que une crítica e afeto
- Leitura fragmentada e intensa, que respeita o ritmo emocional do leitor
Frases do livro Trocando socos com o fim do mundo
Sorte
quando criança
fazer figa me ensinaram assim:
os dedos entre dedos
símbolos da sorte
de um poder maior que abençoa
a quem sabe usar as mãos
mas e se eu tiver
pensei
mãos de menos?
♥
Ossos
há um deus morando
no osso do meu cotovelo
quando o pouso na janela
ouço um estalo um estouro
uma reclamação um choro
o clamor pelo fim dos tempos
da eterna contemplação
♥
Molares
os dentes
molares
não amortecem o
impacto de
nada na boca
nos domínios da língua
tudo é feito
para ferir.
♥
Laços
todo corpo carrega uma
segunda silhueta
um segundo rosto oculto
que nunca viu o sol
todo corpo é filho de alguém
e órfão de uma saudade
♥
Nada é grave
nada é grave mas
vamos com calma
é preciso usar o sim
como quem manuseia
por hábito
uma arma
♥
Não pude ir
não pude ir
não quis
não pude querer
não soube dizer:
tudo isso é demais
e só o que quero
é pouco
♥
Escalas
era isso ou nada
pele e dedos sem freios
e o vento norte do desejo
soprando no rosto
palavras mal ditas:
é hora de ir mas agora
todo lugar é de ficar.
♥
Farsa
ontem fomos farsa
hoje somos tragédia
amanhã quem sabe a
história nos deixará
em paz
♥
Cães
de onde ladram os cães?
da casa ao lado
daquele terreno baldio
de um futuro inóspito
onde o silêncio espreita
de um grande vazio
de um grande vazio que morde
♥
Espantos
não é possível
você diz
mas sim tudo
se tornou possível
vivemos numa época
de espantos
Sobre o autor Eduardo Furbino
Eduardo Furbino é cientista social, escritor e produtor mineiro radicado no Rio de Janeiro. Sua obra é marcada pelo compromisso com as questões sociais, a observação sensível do cotidiano e o uso da palavra como ferramenta de construção e desconstrução.
Em Trocando socos com o fim do mundo, Furbino mostra sua força como poeta, captando a essência de um tempo inquieto e transformando-a em arte. Com uma voz autêutica e provocadora, ele ocupa um espaço importante na nova geração de escritores brasileiros comprometidos com o presente.
Conclusão
Trocando socos com o fim do mundo é um livro para quem se sente em constante conflito com o mundo e consigo mesmo. Uma obra que entende o caos contemporâneo e o transforma em poesia.
Com uma linguagem poderosa e temas urgentes, Eduardo Furbino entrega uma obra que não apenas emociona, mas também faz pensar. Indicado para quem gosta de poesia que estremece, provoca e cura. Um soco, sim. Mas também um afago.
Título: Trocando socos com o fim do mundo
Autor: Eduardo Furbino
Editora: Devir, poesia e prosa
Páginas: 154
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