
Com delicadeza e profundidade, o livro O dia em que perdi minha voz, de Kaio Bruno Dias, entrega ao leitor uma experiência literária marcada por silêncios, saudades e sentimentos sussurrados. A obra retorna ao universo poético do autor após dois anos sem publicações inéditas, e reafirma sua potência em traduzir emoções universais através da prosa poética. Intercalado com ilustrações da artista japonesa Mirin Takano, o livro constrói uma narrativa visual e textual que toca a alma do leitor.
Com uma linguagem acessível, mas carregada de lirismo, O dia em que perdi minha voz se destaca por abordar as fragilidades da vida moderna com sensibilidade e coragem, reafirmando que, mesmo nos silêncios mais profundos, há vozes que merecem ser ouvidas.
Sinopse de O dia em que perdi minha voz
O dia em que perdi minha voz é um convite à introspecção. Construído predominantemente em prosas poéticas, o livro navega por temas como a solidão, os desencontros amorosos, a falta de sentido, o vazio e a esperança de reencontrar a própria voz.
Kaio Bruno Dias traduz sentimentos comuns a todos que vivem em sociedade e sofrem com os ruídos externos e internos. A narrativa poética cria um espaço de escuta e acolhimento, no qual o leitor pode se reconhecer nos fragmentos de dor, amor e saudade espalhados pelas páginas. As ilustrações complementam a experiência, potencializando a emoção de cada texto.
Por que ler O dia em que perdi minha voz?
1- Escrita sensível e acolhedora
Kaio Bruno Dias tem um dom raro: transformar o cotidiano em poesia. Com frases como “estava tão cansado, queria chorar, mas nem isso estava conseguindo mais”, ele expressa angústias que muitos vivem, mas poucos sabem verbalizar. Sua escrita acolhe, abraça e liberta.
2- Reflexões sobre silêncio, perda e memória
A obra explora o silêncio não como ausência, mas como linguagem. O autor transforma a indiferença, a saudade e os não-ditos em matéria-prima de poesia. “Durante todo esse tempo, o que eu fiz ou deixei de fazer foi pautado no seu silêncio” é um exemplo da força emotiva que o livro carrega.
3- Um retrato da vida real com toque poético
Ao trazer situações comuns como conversas sobre remédios, dias brocoxôs ou escadarias de metrô, Kaio humaniza a dor, tornando-a compartilhável. Há humor, tristeza, memória e desejo em cada página. Um livro para quem já se sentiu invisível ou sem voz.
4- Estética visual e textual marcante
As ilustrações de Mirin Takano não são apenas complementos, mas parte essencial da obra. Elas intensificam o impacto dos textos e criam uma atmosfera de introspecção que amplia a experiência de leitura.
Destaques do livro O dia em que perdi minha voz
- Uma obra que toca, emociona e convida à reflexão
- Prosas poéticas que falam sobre amor, saudade, dor e existência
- Escrita acessível e sensível, que acolhe o leitor
- Ilustrações que enriquecem a experiência emocional da leitura
- Linguagem direta que provoca identificação imediata
- Um livro que pode ser lido aos poucos, em momentos de silêncio ou solidão
Frases do livro O dia em que perdi minha voz
igual a brisa
percorrendo o silêncio
por vezes, você volta
aos meus pensamentos
assisto calado
você atravessando
minhas nostalgias
não sei se estou
ignorando a sua falta
ou se estou aprendendo
a te esquecer.
♥
não é que falta amor
amor nós temos de sobra
o grande problema do mundo
sempre foi a má distribuição
de tudo o que produz.
♥
estava tão cansado
queria chorar, mas nem isso
estava conseguindo mais
sentou-se sozinho
na escadaria do metrô
se contentou
em ficar quieto
como se não existisse.
♥
– você costuma ser otimista?
– só quando tomo fluoxetina
– quê?
– sou, sou até que sou.
♥
às vezes
quando estou sozinho
em dias mais frágeis
me vem umas armadilhas
em forma de lembranças do passado
lembranças de épocas e pessoas
que amei e que me amaram
lembranças boas e nostálgicas
que me deixam paralisado, pensativo
de que talvez eu não consiga mais
ser tão feliz quando fui.
♥
se você
pudesse espiar
pelo buraco da fechadura
do meu peito
se espantaria
me acharia exagerado
um emocionado
e talvez eu seja mesmo
tem retratos seus
por todos os lados.
♥
durante todo esse tempo
o que eu fiz ou deixei de fazer
foi pautado no seu silêncio.
você conversava comigo
numa linguagem sem forma
sem significante ou sintaxe.
o seu silêncio, a sua indiferença
ditavam os meus pensamentos
me relacionei com a sua ausência.
♥
os novos remédios
começaram a fazer efeito
apesar do corpo molenga
quase gelatinoso
naquele dia
nenhum pensamento de morte
invadiu sua existência
sentia-se estranhamente bem.
pensou consigo,
então é assim que
as pessoas normais se sentem?
♥
faz duas semanas
que a gente não se vê
e que sensação ruim essa
de coração esmigalhado
coração pequenininho
você me faz tanta falta
me sinto tão brocoxô
parece até que pisei sem querer
no rabo de um cachorro.
♥
– sou louco por ela.
– e ela?
– só é louca mesmo.
Sobre o autor Kaio Bruno Dias
Kaio Bruno Dias é escritor, poeta e cronista. Sua escrita é marcada pela simplicidade, pela observação atenta do cotidiano e por uma sensibilidade que transforma o ordinário em algo profundamente significativo.
Publicou livros como peg & pag (2012), respeite a solidão alheia (2016), de surto em surto (2019), eu sempre morro (2021) e pequeno tratado sobre as despedidas (2022). Seus textos também fizeram parte da mostra “poesia agora” no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
O dia em que perdi minha voz marca seu retorno com uma obra madura, delicada e extremamente humana.
Conclusão
O dia em que perdi minha voz é um livro para quem precisa ser ouvido, mesmo quando o que resta é apenas silêncio. Com poesia, empatia e beleza, Kaio Bruno Dias constrói uma obra sobre as ausências que nos moldam e as memórias que nos sustentam.
Ideal para quem já enfrentou a dor da perda, a solidão ou simplesmente busca um livro que acolha sem julgar. Uma leitura que emociona, abraça e lembra que, mesmo calados, seguimos dizendo muito.
Título: O dia em que perdi minha voz
Autor: Kaio Bruno Dias
Editora: Devir, poesia e prosa
Páginas: 110
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